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- Como surgiu a ideia do # OLHAR PARA TUDO?
# - O canal Olhar Para Tudo é uma criação coletiva
entre Bruno Vergueiro, Vânia Ferreira, Marcelo Bala e Andrea Pesek. Vamos
responder as perguntas de forma coletiva.
Nós 4 somos pais e profissionais do audio-visual há
muitos anos. Crescemos sem essa quantidade enorme de aparelhos de comunicação e
consequentemente com acesso a menos conteúdo. Apenas na telinha (e na telona as
vezes) podíamos nos entreter. E nem sempre o conteúdo era educativo. A maioria
era apenas comercial.
O que vemos hoje é uma abundância de informações. Mas
essa necessidade tão grande de gerar “views” e “likes” muitas vezes deixa pra
trás a qualidade nessa informação. Do jornalismo ao cinema, quantidade não
significa qualidade. Para as crianças há muito estímulo ao consumo e pouco
conteúdo educativo.
Percebemos isso analisando a rotina dos nossos filhos,
o tempo que é gasto por eles assistindo bobagens, e começamos a nos mexer.
Consideramos o canal ainda um projeto piloto frente ao grande potencial que
acreditamos existir em investir em conteúdo educativo para as crianças.
T
- 4 direções de olhares, 5 integrantes, 5 filmes?
# - Como dissemos, para nós ainda é um piloto. Quando
chegarmos a 50 filmes estaremos um pouco mais tranquilos. Mas a equipe é muito
maior. Além do quarteto, o diretor Hugo Cuccurulo e a Cia. Animalenda são
responsáveis pelos filmes “Serei Sereia?“ e “Os Quarto Viajantes” , que foram
adaptados do teatro para vídeo. A produção das trilhas-sonoras originais foi
feita pela Jukebox, produtora de som do maestro Luiz Macedo e equipe. A ideia
de separar as direções dos olhares foi de abrir para tudo sem perder o foco.
Nos guia pelos assuntos e temas e está ajudando nas criações.
T
- Como se dá o processo criativo? Quanto tempo demora?
# - Entre criação e
produção levamos em média dois meses para cada filme de animação. O Marcelo e a
Andrea são uma dupla e criaram o roteiro do “Um Rio”, por exemplo, a partir de
um post no blog do projeto “Rios e Ruas”.
Para a Andrea “O processo criativo é sempre um caos, um turbilhão,
muitas idéias fervendo ao mesmo tempo até que sejam decantadas aos poucos. Pode
levar 1 mês pra definir uma cena, pode levar 1 minuto. Varia muito, não há um
padrão. Gosto de deixar fluir, de dar espaço para o acaso”
As contações de histórias com os bonecos foram
mais rápidas, mas tratam-se de adaptações. Os bonecos e as histórias já
existiam, criados pelo casal Kely de Castro e Vinicius Camargo, da Cia.
Animalenda.
T
- Como está a animação no Brasil?
# - A animação brasileira, assim como a sul-americana,
passa por um período muito criativo. Há muitos estúdios, artistas talentosos,
festivais e escolas. O NUPA era um núcleo de animação que oferecia aulas
gratuitas no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na periferia da Zona
Norte de São Paulo, com trabalho sólido e de qualidade.
Veja alguns dos
trabalhos do NUPA aqui: https://vimeo.com/channels/nupa .
T
- Hoje em dia temos diversos # na televisão paga e alguns programas na rede
aberta destinados ao público infantil. Como vocês sentem este mercado? O que
falta?
# - Um dos canais (dentre os infantis e adultos) que
mais fatura com venda de espaço comercial na TV paga é o Cartoon Network pois é
um canal que fica ligado o dia todo, trocando o público entre as crianças que
estudam de manhã e a tarde. Existe no congresso brasileiro um lei para ser
votada há mais de 10 anos que regulamenta a publicidade direcionada para
crianças. Isso vai mudar esse jogo, e permitir uma descentralização das verbas
dos anunciantes que gere uma produção alternativa de conteúdo. Os canais
abertos cada vez investem menos no público infantil e a tendência é diminuir
mais ainda. Talvez falte uma adequação e equilíbrio nesse investimento,
considerando a complexidade do processo de produção de animação. E perceber
sempre que conteúdos difundidos por meios de massa, como a TV, tem o potencial
transformador. Vemos pouco compromisso com o público no Brasil no sentido de
formar uma sociedade mais equilibrada, no amplo sentido da palavra. Então,
respondendo mais diretamente, achamos que falta comprometimento. O Marcelo
completa “Falta uma, reciclagem cultural de qualidade. Falta ouvir o
passado, transmitir valores e cultura. Por isso Eric Satie, Einstein,
índios, animais, velocidade da luz, piano, Newton... nossos filmes transmitem
cultura de forma intrínseca, nas entrelinhas. Porque empurram tanto lixo para
as crianças se temos uma herança cultural tão rica?”
T
- O que tem demais?
# - Tem muita porcaria, muita gritaria. Quase tudo
comprometido com marketing e tudo para venda ou vendendo algo, tudo tem que ser
um produto consumível, comprável, as crianças ficam muito expostas ao lixo
cultural.
Anúncios de produtos que ninguém precisa,
pasteurização, besteira, inutilidades em geral. Muita cultura americana, aquele
modelinho artificial de vida e sociedade que ninguém aguenta mais.
T
- O que mudariam?
# - Na TV? Com a grana
que eles tem? Nossa, muita coisa. Mas deixa pra lá.
T
- Os filmes do # OLHAR PARA TUDO são de uma sensibilidade incrível. Quais são
as inspirações?
# - As crianças são
nossa inspiração, sempre. E a capacidade que temos de transformar o mundo com
pequenos gestos e ações. A Andrea, por exemplo, trabalha ativamente em
coletivos e iniciativas que buscam transformar a cidade de São Paulo num lugar
mais humano, respeitoso, gentil. Estão descanalizando os rios e protegendo as
nascentes da cidade, fazendo hortas urbanas comunitárias, ocupando praças e
espaços verdes abandonados pelo poder público, restaurando a natureza e o
convívio gentil e respeitoso entre pessoas diversas. Temos um grande desafio
pela frente e as crianças são nossos melhores e mais entusiasmados aliados.
T
- Cada filme é voltado para um tipo de olhar, classificados por vocês como: Olhar
para o outro , Olhar para longe , Olhar para dentro , Olhar de Perto e Olhar de
Olhos Fechados. Qual deles esta cada vez mais difícil de se enxergar? -
# - Acho que temos
sempre a oportunidade de enxergar sob novos pontos de vista, de lançar novos
olhares sobre o mundo. Todos os Olhares tem sua complexidade, sua
singularidade. Não achamos que exista um mais "fácil" ou
"difícil", as crianças não fazem esse tipo de classificação. Na
verdade tudo está relacionado.
T - Já existem novos filmes em andamento?
# - Sim. Temos um
filme quase pronto, chama-se "O Ipê". Em São Paulo há muitas árvores
de Ipê, e todos os anos elas florescem, apesar de crises como seca, inundação,
poluição, caos. É um filme para dar esperança, transpor isso para o nosso dia a
dia, mostrar podemos e devemos sempre seguir em frente e persistir diante das
adversidades. E olhar como a natureza é sábia e generosa, apesar do modo
violento como tem sido tratada.
T - Quais serão as temáticas?
# - Materia prima é o
que não falta. É estar atento desde uma grande notícia que circula nas redes
até o detalhe frágil de uma pétala de flor. Não tem regra. Radar ligado.
T
- Curiosidade: O que vocês costumavam assistir quando criança?
# - Havia poucos
canais e todos assistiam as mesmas coisas. Andrea adorava faroestes e o Zorro.
Marcelo gostava de Jetsons, Tom e Jerry e Speed Racer. O Bruno curtia Caverna
do Dragão e Pica Pau. A Vania enlouquecia com A poderosa Isis, tanto que deu
esse nome para a filha que hoje tem 7 anos.
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